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Destaques - Entrevista - Seleção Brasileira - 5 de abril de 2019

Bruno, exclusivo: “Cabeça do Leal está se encaixando na filosofia da Seleção”


A primeira temporada de Bruninho no Civitanova não rende frutos apenas para o time, semifinalista da Champions League e na briga pelo scudetto italiano. A Seleção Brasileira ganhou, nos bastidores, a atuação do levantador e capitão no relacionamento diário com Leal.

O ponta estará livre para defender o Brasil neste ano após cumprir todo o trâmite de naturalização. E nada melhor, às vésperas da primeira convocação, do que conhecer todas as “engrenagens” da Seleção, a partir de conversas com Bruninho, há mais de uma década peça importante e atualmente líder da geração campeã olímpica no Rio, em 2016.

Nesta conversa com o Web Vôlei, Bruninho fala da relação com o cubano-brasileiro, do momento do Civitanova, da evolução do time italiano na temporada, dos planos para o futuro e também sobre o trabalho para equacionar problemas do calendários em discussões com a Federação Internacional.

É possível chamar de perfeita a atuação do Civitanova contra o Belchatow, na Polônia (vitória por 3 a 0, fora de casa)?
Acho que atuação perfeita não. Foi uma atuação muito boa, sólida, com menos irregularidade. Isso era uma coisa que a gente vinha preocupado. O time sacou muito bem, colocando muita pressão no time adversário e acabou conseguindo um resultado muito importante para o jogo de volta (Bruninho foi escolhido o melhor jogador da partida).

É nítida a evolução técnica do time nesta reta final de temporada. Para você, qual foi o momento marcante para essa mudança de patamar do Civitanova?
Acredito que a gente precisava de tempo. Muitas vezes as pessoas acham que você consegue trazer vários jogadores, caras importantes, e rapidamente entrosar todo mundo. Mas não é por aí. Precisávamos de tempo de trabalho, para se conhecer cada vez mais. O individual não ganha jogos. É sempre o coletivo. Então a equipe joga hoje como um time, não depende só de atuações individuais. O tempo foi nosso principal parceiro, digamos assim, para essa evolução da equipe. A chegada do Fefe Di Giorgi, que é um técnico experiente, sem dúvida nenhuma ajudou. Ele foi jogador e quis dar essa cara para a equipe, para jogar menos com as individualidades e mais como time. Acho que a gente tem feito isso.

Conseguiu acompanhar algo da primeira semifinal entre Perugia e Zenit Kazan? (Russos venceram na Itália por 3 a 2)
Assisti ao jogo inteiro. É uma grande semifinal, dois dos melhores times do mundo. Foi um jogo muito pesado, muita força física, saque, ataque, bloqueio. É o voleibol moderno de hoje. Foi um grande jogo e está tudo aberto do lado de lá. Vamos esperar e ver o que vai acontecer. Acho que em Kazan vai ser um outro jogão.

Apesar de ser início de temporada, foi muito duro o golpe no Mundial de Clubes, numa final com rivalidade local envolvida?
Sem dúvida alguma foi um momento difícil (derrota para o Trentino). Eu, principalmente, fiquei bastante frustrado. Não só pela derrota, mas porque a gente não estava jogando bem. Eu acabo me cobrando, era um momento em que o time não tinha o entrosamento ideal. Era muito aquém das expectativas, das nossas próprias expectativas. Então perder foi um momento difícil, mas superamos. O importante era continuar trabalhando e fizemos isso. Mas sem dúvida foi o momento mais complicado da temporada, pois a gente sabia que poderia ter rendido mais.

A relação entre levantador e atacantes passa muito por confiança e entrosamento. Quando você acha que atingiu o nível ideal nos dois quesitos com Juantorena, Leal e Simon, caras com quem você passou a atuar apenas nesta temporada?
Acho que sempre pode evoluir. Continuo achando que nós podemos continuar melhorando. Mas acredito que a partir de janeiro conseguimos ter mais regularidade, entrosamento, de se conhecer, essa sintonia fina. Claro que com craques assim é mais fácil, mas mesmo assim o trabalho do levantador é um pouco mais demorado. Você precisa desta sintonia fina. E eu não tinha jogado com nenhum deles anteriormente. Então foi um trabalho árduo, mas hoje sinto que temos um entrosamento bom, a gente já se conhece. Às vezes até, em certos momentos do jogo, você sabe como cada um reage. Esse entrosamento está melhorando. Em janeiro a gente já mostrou uma regularidade maior.


Comemoração com o sérvio Stankovic e o cubano-brasileiro Leal (Divulgação)

Por falar em Leal, ele finalmente estará liberado para defender a Seleção Brasileira neste ano. Ele deu uma entrevista para o Web Vôlei admitindo a ansiedade de estrear, de mostrar aos novos companheiros que pode ser útil, etc. Você, como capitão da Seleção, pôde no decorrer da temporada conversar com ele sobre ambiente, regras, todo o funcionamento da engrenagem. Pode falar um pouco sobre a reação dele, o estado de ânimo?
Olha, a gente conversa bastante. Somos companheiros de quarto aqui na Lube e está criando uma amizade muito bacana. Ele é um cara muito legal, bacana, de um coração incrível, além de um grande jogador. Ele está ansioso, sem dúvida alguma é uma coisa nova, apesar de conhecer bastante gente, pois viveu no Brasil, jogou muitos anos no Sada/Cruzeiro. Mas eu tento passar um pouco como é o nosso dia a dia, falo um pouco sobre os companheiros, também do calendário, que é mais puxado. Sem jogar por seleção pelo menos há oito anos, ele vai ter que se acostumar a esse calendário puxado de treinos, jogos e viagens. A gente conversa bastante. Ele está muito animado para esse momento. Tenho certeza de que ele é um trabalhador também. A cabeça dele está se encaixando na filosofia da Seleção Brasileira. Tenho certeza de que ele vai poder nos ajudar e ser um grande companheiro para todos.

2019 será um ano muito puxado para a Seleção. VNL, Pré-Olímpico, Sul-Americano, Pan, Copa do Mundo. Sei que você está envolvido no grupo de atletas que mandou a carta à FIVB e depois de reuniu com o Giba, presidente da comissão dos jogadores, em Bologna. O que pode dizer a respeito do retorno que os atletas tiveram, se receberam promessas de melhoria de calendário?
Esse vai ser um ano muito puxado por conta do calendário. Foi uma reunião bem proveitosa. Tentei juntar alguns atletas das seleções principais (Zaytsev, Christenson, Tillie), a gente acabou conversando e todos possuem a mesma ideia, a mesma opinião: o calendário está muito puxado e com pouco tempo de descanso entre o fim da das competições aqui na Europa (clubes) e o começo da Liga das Nações. A gente tentou passar isso para eles, para pensar um pouco mais na saúde física e mental do atleta. Foi bem bacana, eles já se reuniram depois, estão dando alguns feedbacks. Com certeza essas mudanças serão para depois de 2020, mas foi bacana essa aproximação. Mostrar que os atletas estão engajados, estão juntos nessa. Nem sei se vou poder aproveitar tanto essa melhoria do calendário, mas é importante fazer isso agora para no futuro a gente ter um pouco mais de tempo de recuperação, para o atleta desenvolver o melhor vôlei possível. Muitas vezes, quando ficamos tantos jogos sem essa parada, nós, atletas, além das lesões, não conseguimos jogar no seu melhor nível. Foi uma primeira reunião interessante. Tem tudo para depois de 2020 termos melhorias no calendário.

Você está com 32 anos, uma idade apontada como ápice para muitos levantadores. Sente viver esse melhor momento?
Difícil dizer se estou no ápice. Quero continuar melhorando, trabalho para isso. Acho que hoje estou mais maduro, consigo ser mais regular, digamos, do que era antigamente. Fico feliz de continuar jogando em alto nível. Acho que isso é o mais importante. Sinceramente não sei dizer se estou no ápice. Espero continuar crescendo e melhorando.

Civitanova e seu estrelado elenco internacional (Divulgação)

Você sempre demonstrou se cobrar muito, tendo sempre uma autocrítica até rigorosa sobre as próprias atuações. O quanto acha que isso ajudou ou prejudicou sua evolução?
Me ajudou pois de certa forma eu continuo sendo um cara que não se acomoda. Quero sempre melhorar, quero sempre crescer e isso me faz querer trabalhar, buscar, evoluir. Por outro lado, como você disse também, é um pouco excessivo. Em certos momentos da minha carreira eu me cobrei um pouco demais. Pode ter sido um pouco excessivo de certa maneira. Em geral, eu acho que pego pela lado positivo, para crescer, querer melhorar, essa minha insatisfação, essa autocrítica, de uma forma positiva.

Para encerrar, quanto você planeja os próximos anos de sua carreira? Quer seguir muito mais tempo na Europa, cogita retornar quando para o vôlei brasileiro, até quando se vê na Seleção?
Olha, eu tenho mais um ano de contrato aqui no Civitanova, até a Olimpíada de Tóquio. Depois eu penso em voltar para o Brasil sim. Mas é cedo. Seleção eu espero poder continuar o máximo que der. Sou apaixonado por jogar pela Seleção. É o grande sonho de qualquer pessoa. Continuar, para mim, seria incrível. Mas preciso continuar jogando em alto nível, crescendo. Esse, sem dúvida alguma, é o meu plano para a carreira.

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