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Especiais - 4 de fevereiro de 2019

Está mais do que claro: calendário precisa ser discutido

Racionalizar período de clubes e Seleções virou uma obrigação


Jogos na terça, na sexta, no sábado e novamente na terça. Em sete dias, quatro partidas, sem contar viagens e deslocamentos.

O retrato acima mostra como foi a semana de Itambé/Minas e Dentil/Praia Clube, líder e vice-líder da Superliga Cimed feminina, além de finalistas da Copa Brasil.

Inclua neste cenário ainda os deslocamentos e viagens. E tenha uma realidade muito acima do aceitável. Vamos pegar apenas o “trecho final” da sequência do Minas como exemplo. Após sair do Ginásio Perinão, em Gramado, com o caneco da Copa após vitória na final sobre o Praia, já por volta da 1h da manhã de domingo, o time saiu do hotel às 9h, de ônibus, rumo ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. O voo partiu às 13h para Guarulhos. Depois de 1h30 no ar, o desembarque. Uma espera até 18h40, quando partiu outro avião para Confins. A chegada no aeroporto da Grande Belo Horizonte aconteceu às 20h40. Novo deslocamento da delegação, de ônibus, em direção ao Minas Tênis Clube, no Bairro de Lourdes, na capital mineira, chegando às 22h.

Hoje, a programação inclui uma seção de vídeo para analisar o Pinheiros, adversário de amanhã, em BH, além de um trabalho físico na sequência. Na manhã de terça-feira, por volta das 9h, treino com bola (passe e saque), para entrar em quadra às 21h pela quarta rodada da Superliga.

– Está muito puxado, desde o começo da temporada. É um problema do vôlei mundial, não apenas do vôlei brasileiro. Sou italiano, sei da realidade no campeonato local, acontece mais ou menos a mesma coisa do que aqui no Brasil. Na verdade é que lá nós não temos campeonato estadual, enfim, mesmo assim, eu acho que é puxado para todo mundo. Teria de existir uma conversa franca ao máximo nível do vôlei mundial – disse Stefano Lavarini, ao Web Vôlei, em Gramado, durante a Copa Brasil.

Para o treinador italiano do Minas, o preço mais “caro” está sendo pago pelas principais jogadoras, que emendam praticamente sem férias os calendários de clubes e seleções anualmente. E o resultado, além do aumento na quantidade de lesões, é uma perda de qualidade das partidas.

Stefano Lavarini, técnico do Itambé/Minas (Rodrigo Ziebell/Divulgação CBV)

– Algumas meninas nunca param o ano todo. Aí uma está com cãimbras, a outra está com dor no ombro… E é para todo mundo. Não é só para a gente, no Minas. Serve para o Praia também. Cai o nível técnico. Para fornecer um jogo de qualidade, é preciso treinar. E a gente não treina. Estamos certos que esse é o melhor espetáculo que a gente pode mostrar neste momento da temporada, nestas condições. Quem paga as jogadoras são os clubes e eles não podem se permitir jogar as principais competições, que mostram mais os nomes dos patrocinadores, sem elas. Eu não tenho as soluções para dar, não me considero esperto o necessário para isso. Mas a gente está exigindo muito das atletas – completou Lavarini.

A reclamação também é das atletas. Aos 37 anos, a central Carol Gattaz sente na pele as dificuldades da quantidade de jogos e ausência de tempo para recuperação.

– É um absurdo esse calendário. Temos de ver os responsáveis e cobrá-los porque é desumano conosco, os atletas. A gente estava viajando, nós e o Praia, fomos para o Mundial, jogamos todos os tipos de campeonato, vários jogos por semana, sem descanso nenhum. Isso acaba com o atleta. A gente não tem tempo para se preparar, treina pouco e descansa pouco. Os responsáveis deveriam rever esse calendário e pensar mais nos atletas – reclamou a capitã do Minas.

Discurso reforçado por Natália, um dos exemplos que emenda os calendários de clubes e seleções ano após ano, sofrendo fisicamente para se manter em alto nível.

– Para mim o que complicou foi o Mundial de Clubes ter acontecido em dezembro. Normalmente ele acontece no início ou no fim da temporada. Ficamos com jogos atrasados pela viagem para a China em dezembro, assim, enquanto alguns times estão fazendo um jogo por semana, nós estamos fazendo muito mais. Isso complicou para nós e com certeza acaba prejudicando. Eu estava com o joelho ruim, a Fabizona também, a Garay está com os problemas dela… É complicado. Os técnicos acabam tendo de mesclar, uma descansa um dia, outra descansa no outro, para ver se a gente consegue chegar viva ao fim da temporada – comentou Natália, antes de emendar:

Natália convive com problemas no joelho (Rodrigo Ziebell/Divulgação CBV)

– Isso preocupa. O calendário com a Seleção já começa na segunda quinzena de maio. Quem estiver nas finais da Superliga não vai ter tempo para descansar. Algo precisa ser revisto. Falo por mim: não tenho mais 15 anos de idade. Não chegamos nem na metade da temporada e o bicho já está pegando.

Diretora de vôlei feminino do Minas, Keyla Monadjemi cita o exemplo de Gabi para pedir mudanças:

– É um absurdo esse calendário, desde início a gente fala nisso. Eu fico imaginando o exemplo da Gabi. Ela está há 5 anos, 6 anos fazendo finais. Acaba a Superliga, menos de uma semana depois, ela está na Seleção Brasileira. Tem 24 anos, parece que tem 32. Quando chega de verdade aos 30, ninguém aguenta mais. Tem de ser repensado esse calendário internacional.

No fim de janeiro, o mesmo já havia acontecido também no masculino. Finalista da Copa Brasil masculina, o Fiat/Minas desembarcou de uma viagem iniciada em Lages, Santa Catarina, em Belo Horizonte, numa segunda-feira à noite, por volta das 21h, e jogou novamente na terça, às 17h. O time havia jogado a semifinal contra o EMS/Taubaté no sábado e a decisão contra o Sada/Cruzeiro no domingo.

Nas redes sociais, o levantador Bruninho já iniciou recentemente uma campanha para alertar as entidades sobre a necessidade de discussão do calendário. É preciso avançar, com FIVB, CBV e comissões de atletas sentando para discutir e achar um meio-termo no que existe hoje.

POR DANIEL BORTOLETTO

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