Rizola relembra título do MRV/Minas em 2001/2002 e batalha na final contra o BCN
Técnico na última conquista de Superliga do clube de BH contou ao Web Vôlei os bastidores da final
Quando entrar na quadra do Sabiazinho, em Uberlândia (MG), na próxima sexta-feira, para enfrentar o Dentil/Praia Clube, às 21h30, no segundo confronto da série melhor de três da final da Superliga Cimed Feminina 2018/2019, o Itambé/Minas pode quebrar o jejum de 17 anos sem o sonhado título da competição.
A última vez que as minastenistas conquistaram o torneio foi na temporada 2001/2002, quando o time tinha como base a levantadora Fofão, a oposta Elisangela, as ponteiras Pirv e Érika, as centrais Marina e Ângela Moraes e a líbero Ana Maria Volponi. No grupo, havia ainda as futuras bicampeãs olímpicas Sheilla e Fabiana, além de Fabíola e Juciely, todas muito novinhas. O técnico era Antônio Rizola.
O Itambé/Minas venceu o primeiro confronto dos playoffs, no último domingo, por 3 sets a 2, quando chegou a estar vencendo por 2 a 0, permitiu a reação do Praia, mas conseguiu se recuperar e vencer no tie-break. A equipe do Triângulo, atual campeã da Superliga, precisa ganhar em casa, para forçar o terceiro e decisivo confronto, marcado para o dia 3 de maio (uma sexta-feira), às 21h30, novamente no Mineirinho, em Belo Horizonte (MG). O SporTV 2 transmite todos os jogos da série.
Rizola contou ao Web Vôlei que a campanha do título começou sob pressão e que seu trabalho era visto com desconfiança. “Diziam que tinham dado uma Ferrari para uma pessoa sem experiência dirigir. Eu conversei com o Rubens Menim (dono da MRV/Engenharia, patrocinadora da equipe) e garanti que, naquele ano, ele sairia da fila”. E saiu.
A final contra o BCN/Osasco, comandado pelo então técnico da Seleção Brasileira Masculina José Roberto Guimarães – ele só assumiria a Seleção Feminina em 2003 -, foi épica. O time paulista ganhou o primeiro jogo, em Osasco (SP), por 3 a 0, de maneira arrasadora e chegou para o segundo confronto com o moral elevado. Vencia o segundo duelo, na Arena do Minas, em Belo Horizonte, por 2 a 0 e o terceiro set por 16 a 13.
A tensão na arquibancada era grande. A pequena torcida de Osasco fazia festa. Rizola pediu tempo. Sua principal jogadora, a romena Cristina Pirv, havia torcido o pé no segundo set e voltou para a quadra, mas jogando na base do sacrifício, sem a mesma explosão. O BCN estava a 9 pontos do seu primeiro título de Superliga. Durante o tempo, o repórter de quadra da TV Bandeirantes, Álvaro José, entrevistou Zé Roberto sobre o fato de o time estar muito perto do título. Zé, no entanto ponderou: “Nada disso, vôlei é um esporte em que tudo pode acontecer. Já muito placar como esse ser revertido”. E foi.
No lado do BCN, a equipe titular era formada por Carol Albuquerque, Patrícia Cocco, Virna, Paula Pequeno, Janina, Valeskinha e Arlene (líbero). Fofinha, a levantadora Marcelle, a oposta Renatinha e Jaqueline – com apenas 18 anos, mas já com uma personalidade incrível, sacando firme e atacante forte, atuando tanto na ponta quanto como oposta -, entravam com frequência. O Minas virou aquele set, ganhou o quarto, levou a partida para o tie-break, venceu por 3 a 2, forçou o terceiro jogo e, na semana seguinte, no Mineirinho, diante de mais de 26 mil pessoas – até hoje é o recorde de público em uma partida entre clubes do vôlei feminino -, superou o BCN por 3 a 1 e conquistou o único e último título do clube na Superliga – foi campeão com o L´Aqua Di Fiori em 1992/1993 quando a competição ainda se chamava Campeonato Brasileiro.
Em entrevista ao Web Vôlei, Rizola relembrou a final, fez uma análise atual temporada, falou sobre Seleção Brasileira, renovação, e contou detalhes do bastidores do último título minastenista.
Como foi aquela temporada e como você se lembra do playoff da final?
Foi um campeonato muito difícil, muito equilibrado, onde tínhamos BCN, Rexona, o time de Campos e o MRV/Minas como as quatro maiores forças da temporada, candidatos ao título. A gente perdeu o primeiro jogo lá em Osasco por 3 a 0, onde a Pirv e a Érika, nossas principais atacantes, fizeram uma pontuação muito inferior do que estavam habituadas a fazer. Fomos realmente dominados pelo BCN. Na segunda partida, dentro do Minas, estávamos perdendo o jogo de 2 a 0. A Pirv tinha sofrido uma torção no tornozelo e deixou a quadra. Estávamos perdendo o terceiro set, mas conseguimos virar. O time a ser batido naquela temporada, na minha opinião, era o BCN. Vinha de grandes vitórias, ótimos resultados, e era o primeiro ano da nossa equipe com aquelas jogadoras, aquele grupo. Nosso time tinha peças boas, mas era recém-formado. Eu tive um ano muito difícil, era questionado o tempo inteiro, mas graças a Deus a gente conseguiu bater o time a ser batido.
Era o seu primeiro ano como treinador no Minas. Como foi esse desafio?
Foi bem difícil. Eu já tinha assinado meu contrato com o São Caetano quando fui procurado pelo Mário Marcos (na época supervisor do clube, ex-diretor de vôlei feminino do Minas e ex-jogador da Seleção Brasileira de Vôlei) e ele me fez o convite. Nós nos encontramos no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo para conversar. O Minas, naquela temporada, tinha dado a ele a oportunidade de escolher o treinador e ele queria que fosse eu. Disse que não poderia aceitar, porque já tinha fechado com o São Caetano. Mas, quando falei no clube do ABC que tinha recusado o convite do Minas, o presidente disse que se eu não aceitasse, seria um burro, porque o São Caetano não chegaria às finais e o MRV era um time que poderia me fazer brigar pelo meu primeiro título de Superliga. E, assim, eu fui para o Minas. Mas, era visto com desconfiança. Lembro que diziam que tinham dado uma Ferrari para um treinador sem experiência e sem muitas referências em clubes grandes dirigir. Mas eu tinha muita convicção no meu trabalho. E as jogadoras também. O Minas é um clube de excelência em muitos esportes. Respira esporte. Os sócios participam, a torcida é presente. A pressão era grande.
Como era o astral da equipe?
A equipe tinha um astral muito bom, era uma equipe que gostava de trabalhar, trabalhava pesado, treinava muito. Eu tinha uma comissão técnica forte e principalmente tive o apoio do Ricardinho Santiago, que era diretor da equipe (hoje presidente do Minas) e do Mário Marcos. Tinha liberdade para trabalhar, apesar da pressão por conta da grandeza e da tradição do Minas.
Como você resumiria aquela temporada?
Resumiria como uma temporada de superação, porque o Minas havia ganhado um título de Campeonato Brasileiro (ainda nem se chamava “Superliga”) em 1993, com o L´Aqua di Fiori e, desde então, não tinha ganho mais título nenhum. Já era o sexto ano de patrocínio do MRV, um patrocínio bom, mas sem títulos. Um dia, eu estava com o presidente da MRV Engenharia (patrocinador do clube) Rubens Menim e ele estava meio descontente, achando que a gente não iria chegar à final e eu me reuni com ele e disse “Presidente, o senhor está aqui há cinco anos e nunca ganhou um título. Não se preocupe, deixa que eu vou trabalhar e eu vou dar esse título para o senhor”. E ele disse: “Então está bom”. Nesse dia, ele até me chamou de arrogante (risos). “Você me parece um pouco arrogante”, foi o comentário dele, mas numa boa. E, quando acabou o campeonato, e nós fomos campeões, ele desceu da área vip onde ele estava, no Mineirinho, encheu um saco de cerveja e disse: “Você falou que iria ganhar esse título, e agora a gente vai beber toda essa cerveja juntos” (risos). E nós subimos no caminhão do Corpo de Bombeiro e ficamos sentados, bebendo a cerveja, enquanto o time desfilava pelas ruas de Belo Horizonte. Se vocês virem as fotos da comemoração, pode ver que eu não apareço. Estava sentado, comemorando com ele e tomando a cerveja pelo título que o MRV nunca tinha conquistado até então. E foi o único título que o MRV/Minas teve na Superliga, em 9 anos de patrocínio.
Quais eram os destaques daquele time?
A Fofão seguia fazendo o trabalho dela sempre quietinha, ajudando muito o crescimento da Fabíola, atuando com regularidade e distribuindo de forma muito equilibrada. Érika e Elisângela tinham personalidade, mas eram novas. A Ângela Moraes era muito eficiente no ataque, era muito querida pela torcida, jogava com raça, puxava o time. A Pirv era um ídolo nato, amada pelo torcedor, tinha uma identidade muito forte, além de ser uma grande jogadora. Tivemos uma conversa uma vez e nunca me esqueci. Em três anos, ela tinha sido a maior pontuadora da Superliga e eu disse, “Pirv, você trocaria o seus títulos individuais por um de campeã?”. E ela falou: “Rizola, eu troco, porque para mim é mais importante ser campeã com a equipe”. E eu disse: “Então vamos ser”. Érika, Elisângela e Pirv faziam, em média, 13, 12 pontos por partida, com Ângela Moraes fazendo 8, 10 pontos, e a Marina fazendo ali 8 pontos. Inclusive a Marina foi a melhor bloqueadora daquela Superliga. Então, essa distribuição maravilhosa da Fofão mostrou a nossa força como equipe. Nós ganhamos o campeonato por conta da nossa estrutura tática, no nosso conjunto. Não foi na base da individualidade.
Como foi ver o nascimento de jogadoras que estavam naquele grupo como Fabíola, Sheilla e Fabiana, ainda muito novas?
Via claramente a projeção dessas meninas. Tinham potencial, mas eram meninas. A Fabíola estava comigo desde 1998, na Seleção Infanto. Ela ela era ponteira, era titular como atacante na Seleção Infanto, em 1999. Jogou ainda como ponteira no Mundial Infanto e aí já entrou a Sheilla como reserva de oposta e em 2000. Fabíola foi então ser reserva, mas já como levantadora. Nós, da Seleção Infanto, e o Bernardo, no Rexona, a colocamos para jogar como levantadora, já pensando em suprir essa falta para a Seleção Brasileira no futuro. Comigo, na Seleção Juvenil de 2000, ela já foi a segunda levantadora e a Sheilla a segunda oposta. E, no Mundial Juvenil, as duas já foram titulares juntas. Fabiana vinha sindo uma projeção grande, uma descoberta da Iara Ribas, treinadora da base do Minas. Eram promessas sendo lapidadas naquela temporada.
Cite um fato que te marcou marcou naquela final.
Marcou o Mineirinho lotado, recorde de público até hoje. E nós usamos uma estratégia para entrar na quadra. Os vestiários do Mineirinho eram um do lado do outro e eu imaginei que a Virna, capitã do BCN, não iria querer entrar na quadra separado da gente, para não ser vaiada por 26 mil pessoas. Então, conversei com o grupo e decidimos entrar depois delas. Mas, elas não entravam. Ficamos, os dois times, dentro do vestiário, até o limite. Estávamos estourando o prazo para começar o aquecimento e tínhamos de entrar. Combinamos uma estratégia com a Fofão, nossa capitã. Ela puxou a fila na saída do vestiário e todas saíram correndo ela porta, em disparada. O BCN saiu logo atrás, também correndo, nos alcançando, lado a lado, no corredor. Os dois times passaram juntos pela pista de acesso à quadra, correndo, lado a lado. Mas, quando chegamos bem embaixo da arquibancada, no limite para entrar no ginásio, demos meia volta e corremos novamente para o vestiário. O BCN entrou sozinho no Mineirinho e, claro, ouviu uma vaia ensurdecedora. Esperamos dois, três minutos, até as vaias pararem, e entramos, sob aplausos, uma festa enorme, gritos de “Minas”, e uma energia incrível por parte da torcida. Foi fantástico. Não que eu acho que as vaias influenciaram o BCN, um time muito experiente, que não se abalaria com isso, de maneira nenhuma, claro. Mas, acho acho que aquela vibração que nós recebemos na nossa entrada foi fundamental para energizar o grupo, que entrou em quadra ligado, acreditando no título e jogando em sintonia com a torcida. Foi uma estratégia emocional. Final tem dessas coisas. Final se ganha em detalhes.
Como você acha que Itambé/Minas e Dentil/Praia Clube chegam à essa final? Vê algum favorito?
Vejo uma final muito equilibrada, com as duas equipes num bom momento. A questão emocional vai pesar muito nos playoffs. Taticamente, as equipes se conhecem muito bem. O emocional e a estratégia vão pesar.
Vimos uma Superliga de muitos erros de passe. Você, como treinador das seleções de base durante muitos anos, acha que estamos sofrendo com a falta de ponteiras-passadoras? É um problema na formação?
Acho que é um problema na formação sim, porque você consegue fazer, com trabalho, uma jogadora não passadora, passar. Tem de treinar, investir tempo. Você tem um exemplo claro da Natália. A Natália não era uma ponteira-passadora nas categorias de base. E, de repente, ela começou a ser trabalhada para isso, principalmente quando ela teve o problema de joelho no Rio de Janeiro e ela não podia saltar. Então trabalhou muito a questão do passe, da manchete, do deslocamento, e melhorou muito.
Dá para comparar as gerações olímpicas desde 2008 até agora?
A equipe de 2008, o ouro olímpico de 2008, representou a melhor geração que Brasil já teve em todos os tempos. O grupo de 2012 era forte sim, mas chegou a viver uma situação no campeonato em que correu o risco de nem entrar entre os oito classificados. Eu era supervisor da equipe, acompanhando o Zé Roberto, em Londres, e a nossa preocupação era a de que corríamos o risco de nem passar para as quartas de final (O Brasil só se classificou para as quartas de final graças à combinação de resultado de terceiros). Mas, foi uma equipe que se superou e mostrou um caráter muito grande. Essa geração tinha sido campeã mundial infanto, tricampeã juvenil, conquistou muitos títulos de Grand Prix seguidos, então era um grupo acostumado a decidir, que tinha experiência em finais. Essa equipe de hoje, que vai buscar a vaga para os Jogos de 2020, tem de buscar essa classificação ainda, mas é uma equipe que já sofreu um baque grande por causa do Rio-2016. O mesmo baque que a geração de 2004 sofreu com a eliminação em Atenas. Temos de retomar o trabalho forte na base brasileira, como tínhamos antigamente. É hora de recomeçar, hora de garimpar.
Você vai renovar com o São Caetano?
O São Caetano ainda está discutindo a renovação do patrocínio, o valor do investimento, então ainda não fechamos nada. Meu acerto era só até essa Superliga, mas eles já manifestaram o desejo de continuarmos. Com o vôlei colombiano, tenho contrato até o classificatório olímpico do ano que vem. O objetivo, quando fui para lá, há dois anos, era buscar o sonho, como dizia o presidente Carlos González, que faleceu ano passado. O sonho é colocar a Colômbia em uma Olimpíada. E a gente está próximo disso. Hoje, a Colômbia é respeitada no mundo, porque os resultados que fizemos em 2017 e em 2018 colocou o time em segundo lugar no ranking sul-americano, à frente da Argentina, do Peru e da Venezuela, só perdendo para o Brasil.
Por: Patrícia Trindade
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